Reproduzimos aqui um texto de José Henrique Guimarães, diretor da Acaiaca Distribuidora de Livros, publicado anteriormente no blog do Galeno, pois acreditamos que pode contribuir para a discussão tendo em vista o aprimoramento do mercado editorial brasileiro.
O Fundo Pró-Leitura e o comércio distribuidor
Tenho para mim a convicção de que um dos principais instrumentos de facilitação do acesso ao livro no Brasil é o comércio no varejo e no atacado. Na hipótese de institucionalização do Fundo Pró-Leitura e a taxação única em cascata de 1 % sobre o faturamento das empresas, os distribuidores e livreiros serão duramente penalizados, pois operam com margens de lucro muito reduzidas – no caso das distribuidoras, por exemplo, próximas desse percentual. Com os dois principais elos da cadeia de suprimentos enfraquecidos pela taxação em cascata, o Fundo pode de forma contraditória tornar-se uma grave barreira a novos investimentos, ao menos do setor.
A cadeia produtiva do livro no Brasil passa por uma importante transformação iniciada pelo varejo, que se expandiu em redes, em novos formatos de loja, e para a Internet. Abriu-se para o mercado de capitais, provocando uma mudança também por parte das livrarias independentes que, pressionadas pela concorrência, passaram a oferecer melhores serviços como cafés e lojas climatizadas.
Paralelamente, houve a entrada progressiva de capital estrangeiro no negócio editorial, através de filiais de grandes grupos multinacionais, fusões, aquisições, e a modernização de diversas empresas, em sua maioria familiares, combinando a criatividade de seus empreendedores com melhores práticas administrativas, apesar da grande concentração de negócios nas mãos de poucos “players”, e as mazelas advindas disso. Tendência essa, aliás, que se nota nos outros elos da cadeia produtiva.
Por último, e não menos importante, ocorreu a expansão e o surgimento de novas distribuidoras nacionais, com agregados na prestação de serviços, suprindo uma lacuna importantíssima na cadeia de suprimentos, pois fazem o livro alcançar os mais distantes rincões.
Com a introdução das novas tecnologias de informação, estas empresas vêm promovendo o acesso das livrarias e bibliotecas a todo o acervo brasileiro e internacional de publicações, com estoques para pronta entrega e serviço de encomendas e logística de altíssimo padrão – modelo muito parecido com o que se pratica hoje na Europa e nos Estados Unidos.
Em contato recente com o presidente da ABA – American Bookseller Association – em evento promovido pela CBL, ele, livreiro em Montana, me disse que concentra 70 % de seus pedidos em um distribuidor, isto porque tem a garantia de cobertura de estoque e entrega rápida de tal forma que sua livraria possa oferecer aos seus clientes todo o vasto acervo americano e competir com bons serviços e outros agregados com as lojas de redes e “pontocons”.
O debate está começando, a questão é complexa, e, tratando agora somente de nosso setor – distribuidor de livros – que é minoria nos órgãos representativos de classe, e com certeza o mais penalizado com uma possível taxação única, creio que seja necessário um trabalho aprofundado de pesquisa, para que não sejam penalizados aqueles que devem ser os maiores beneficiários de nossos esforços: o LEITOR brasileiro de livros e os novos que virão!
José Henrique Guimarães é Diretor da Acaiaca Distribuidora de Livros e foi Presidente da Câmara Mineira do Livro.