As interrogações de Eric Ponty diante das telas de Portinari
Donizete Galvão, Escritor e Poeta
Um tanto solitariamente o poeta Eric Ponty vem desenvolvendo sua obra poética, que procura divulgar em revistas e sites da Internet. Ao se voltar para o público infanto-juvenil busca uma dicção que mantém a tensão da poesia e ao mesmo tempo revela cuidado com a clareza e a simplicidade que esse tipo de literatura exige.
Sob a bênção de Jorge de Lima, dois ricos imaginários se encontram em Menino retirante vai ao circo em Brodowski. Trata-se de um circo poético, embebido de beleza e misticismo. O menino de São João del Rei encontra aqui o menino de Brodowski e ambos lançam olhares perplexos para o mundo que os cerca. Há uma nuvem melancólica toldando essas infâncias breves que o tempo irá engolir.
Nesse mundo, cheio de céus azuis, que lembra também a pintura de Chagall, surgem os palhaços, os músicos, a banda de música, as brincadeiras da infância.
Toda aquela mitologia do menino Portinari, nascido em uma fazenda de café, ganha aqui as palavras emocionadas do poeta mineiro Eric Ponty.
O tom interrogativo predomina. Diante dos quadros de Portinari, o poeta começa a se interrogar sobre aquelas figuras. Que fazem? Que procuram? Que dor e mistério escondem? A atenção transforma-se aqui num oratório, num relicário de imagens.
Eric Ponty chega aos quadros de Portinari por essa via de interrogações. Quase sempre ao falar com um público mais jovem procura-se uma linguagem que tenha humor. Eric prefere um caminho diferente. Acredita que solidão, tristeza e dúvidas também fazem parte do universo da criança. Faz com elas um pacto de sensibilidade. Afinal, que criança não se sentiu só e amedrontada em determinados momentos? Alegria e dor andam juntas nesses poemas.
A busca desse mundo perdido mostra as sensações da criança diante dos acontecimentos de uma cidade do interior. Acontecimentos banais que adquirem outros significados quando passam pelo filtro criador do artista. Retornam tingidos de encanto e de saudade. A chegada do circo, a procissão, o desfile da banda são ritualizados. Trata-se de um mundo ainda rural, sem a velocidade das grandes cidades, onde cada coisa é fixada para sempre na memória. Por viver também em uma cidade que respira a história e religiosidade, Ponty também sente a nostalgia desse tempo perdido, suspenso na imaginação.
As brincadeiras infantis giram em torno do estilingue, do balanço, de pular carniça. Brincadeiras de crianças pobres, sem muitos recursos, mas cheias de imaginação. O poeta pergunta se um dia não se tornarão retirantes, exiladas desses breves momentos de felicidade, perdidas em cidades sem mistério.
A lírica de Eric Ponty harmoniza-se perfeitamente com a pintura de Portinari. Quem sai ganhando é o leitor, jovem ou não, que vai se emocionar com esse diálogo entre pintura e poesia. E que também vai poder exercitar o seu olhar, imaginando outras perguntas e histórias para os personagens de Portinari.