Artemídia e Cultura Digital

ISBN: 978-85-85653-97-2
Artur Matuck/Jorge Luiz Antonio (orgs)
384 páginas | 18x25cm
R$98,00

O livro reúne os textos produzidos no simpósio Acta Media III – Simpósio Internacional de Artemídia e Cultura Digital, que ocorreu não apenas no espaço físico e no tempo restrito das palestras e subsequentes debates, mas também nos domínios virtuais e nos tempos diferenciados de interlocução do ciberespaço.

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Artemídia e Cultura Digital, de Artur Matuck e Jorge Luiz Antonio inaugura a coleção homônima que a Musa Editora lança ao mesmo tempo que o livro, divisão da Biblioteca Aula (abriga as diversas coleções da Musa), “Artemídia e Cultura Digital”, dirigida por Artur Matuck e amparada por um Conselho Editorial de notáveis que nos desvendará o novo de toda parte pela sugestão de autores e obras que darão continuidades às publicações.

O livro reúne os textos produzidos no simpósio Acta Media III – Simpósio Internacional de Artemídia e Cultura Digital, que ocorreu não apenas no espaço físico e no tempo restrito das palestras e subsequentes debates, mas também nos domínios virtuais e nos tempos diferenciados de interlocução do ciberespaço. As palestras foram ministradas no auditório do MAC-USP, de setembro a dezembro de 2004, mas o processo virtual estendeu-se até março de 2005. A organização em livro, já prevista, ocorreu posteriormente e sua edição incorporou novos atores, com relevância no trabalho de design, tomando a cara gráfica do livro que ora lançamos. Eis a ordem dos ingredientes, do simpósio ao livro:

Uma disciplina semestral de pós-graduação em Arte Telemática[1] com propostas de interação dialógica escritural em sala de aula; um simpósio internacional para ampliar conhecimentos sobre Cultura Digital; a participação e interlaboração entre alunos e especialistas; a proposição de coletar e editar textos para se produzir um livro; em suma, ensino, pesquisa, teorização, prática laboratorial e produção de conhecimento – esses foram os ingredientes que resultaram no livro Artemídia e cultura digital.

A disciplina de Arte Telemática do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte – PGEHA, da Universidade de São Paulo, ministrada por Artur Matuck desde 2003, ensejou a realização do simpósio anual, denominado de Acta Media[2] (duas palavras latinas: acta, no sentido de “feitos”, “realizações”, “registros”; e “media”, plural de “medium”, no sentido de “meios”), coordenado pelo professor e organizado com o apoio de alunos e colaboradores. Assim, Acta Media, no sentido de “ata dos meios”, indicaria o registro dos meios atuais de comunicação e circulação da arte e da cultura, ou seja, da. A excelente recepçao dos sucessivos simpósios, no entanto, tornou a expressão Acta Media conhecida como a marca registrada de um evento de reflexão sobre ‘artemídia e cultura digital’ que neste livro dissemina pela primeira vez seus resultados a um publico mais amplo.

Este processo pedagógico presencial-virtual propunha uma redefinição e ampliação dos papéis sociais desempenhados em situações educacionais destinadas à transmissão, geração e fixação de conhecimentos. O dispositivo de autoria, o chamado projeto metatextual, previa a inclusão de mediadores desempenhando funções como articuladores entre palestrantes, organizadores e público e como interautores projetando, propondo e atualizando novos textos a partir dos apresentados pelos palestrantes.

Com a experiência de dois simpósios anteriores, o Acta Media III – Simpósio Internacional de Artemídia e Cultura Digital – resultou de um planejamento muito mais elaborado que incluía a segmentação do tema, a apresentação, discussão e possivel reelaboração dos textos. Sua atualização resultou de significativa presença de palestrantes discutindo uma pluralidade de temas ligados à artemídia e à cultura digital.

O simpósio ocorreu não apenas no espaço físico e no tempo restrito das palestras e subseqüentes debates, mas também nos domínios virtuais e nos tempos diferenciados de interlocução do ciberespaço. As palestras foram ministradas no auditório do MAC-USP, de setembro a dezembro de 2004, mas o processo virtual estendeu-se até março de 2005.

Desse modo, a relação entre agentes do conhecimento – organizadores, palestrantes, mediadores, públicos, editores – transcorrida tanto no tempo e espaço dos encontros presenciais como em ambientes do ciberespaço, criou uma dinâmica inédita com resultados significativos tanto em âmbitoa nível pedagógico como editorial.

Para a articulação desta estrutura dual – presencial-ecrânica – foi utilizado um instrumento destinado a organizar a intercomunicação, especialmente textual, entre esses agentes, o programa Teleduc, um ambiente de aprendizado à distância.

O português foi a língua selecionada e majoritária desses intercâmbios, com o propósito explicito de favorecer o surgimento de uma reflexão teórica acerca da cultura digital acessível a pesquisadores do Brasil e de outros países de língua portuguesa.

A atualização desse projeto de comunicação representou um experimento em criação, produção, validação e difusão do conhecimento com plena utilização de tecnologias digitais. O processo iniciou-se com um metatexto que introduzia a temática geral do simpósio, a subdivisão temática e propunha um dispositivo de funcionamento organizacional e autoral.

Seguindo esse projeto original, o simpósio transcorreu, por meio da apresentação das palestras, estruturadas em temas específicos da cultura digital, e simultaneamente através de um ambiente de educação à distância, o programa Teleduc, através pelo qual foi desencadeado um processo de re-informação e interautoria.

Os pós-graduandos atuaram como mediadores, desempenhando funções no inter-relacionamento entre os palestrantes e o público, os organizadores e os editores. Cada um dos mediadores responsabilizou-se por um dos temas programados.

Durante as sessões, estes mediadores atuaram como “respondentes”, assumindo a responsabilidade de iniciar o debate subseqüente a cada palestra.

Além disso, os mediadores deveriam desempenhar funções no planoa nível virtual, colaborando numa ampliação das questões discutidas em cada tema, propondo textos seminais, sítios relevantes, citações, fragmentos, textos que poderiam conduzir a um processo de ampliação dos temas levantados; deveriam ainda programar e conduzir sessões de bate-papos com os autores, através do Teleduc; foram ainda convidados a produzir um texto original conceituado como um texto de interautoria: cada mediador reelaboraria o conceito fundamental de um determinado tema e conceberia um projeto de escritura interativa ou colaborativa, utilizando-se das potencialidades do meio digital para atualizar um texto inédito, preferencialmente por intermédio de novos dispositivos de textualidade computacional. Os mediadores também poderiam produzir intervenções hiper-autorais, nas quais palavras, frases ou autores citados nos textos originais seriam selecionados e transformados em conexões (“links” ou ligações) conduzindo a hipertextos, ampliando desta forma a produção intelectual original do palestrante. Todas estas possibilidades autorais não foram, no entanto, realizadas por inteiro.

A atuação interautoral tornou-se mais dinâmica, mais contínua, durante as aulas da disciplina Arte Telemática, ministradas no laboratório de computação. As sessões de prática laboratorial possibilitaram a experiência pratica de uma comunicação no espaço dual, conjugando a co-presença física e virtual. Participantes ocuparam um mesmo espaço físico, enquanto situavam-se virtualmente como co-autores de um diálogo construído por uma ferramenta de autoria. Alguns faltantes na aula conectavam-se à distância. Um relato do Prof. Artur Matuck permite-nos vislumbrar um pouco esta experiência:

“A sensação de silêncio ambiental, preenchido por vozes escriturais, trazia em alguns momentos uma sensação de estranheza. Indagávamos por que estávamos em silêncio, nos comunicando apenas através de textos digitados. Uma vez ou outra um comentário presencial referia-se aos  actantes ausentes daquela sala, mas escrituralmente presentes. E então percebíamos melhor suas ausências, pois podíamos falar, mas nao redigir, sem ser ouvidos por eles. Vozes presenciais e escriturais se alternavam, numa construção de discursos registrados em textos em tela e outros falados, esparsos pelo espaço-tempo e logo esquecidos, talvez marcando no arquivo uma ausência, percebida sutilmente por alguns. Nessa integração, palavras faladas parecem registrar uma ausência pois não aparecem  registradas como as outras. Estas outras palavras que surgiam desta interação entre o pensamento, os olhos, as mãos e a ponta dos dedos de cada um e as máquinas que faziam estas vozes silenciosas se entrecruzarem. Em momentos de maior concentração, quando o texto fluía melhor, as perguntas, respostas, comentários, citações encaixavam-se num continuum espacio-temporal. A sensação de silêncio ambiental se diluía, as ausências físicas perdiam o sentido pois seus nomes pontilhavam a conversa materializada numa sucessão vertical de telas. De certa maneira, ouvíamos nossas vozes escriturais ecoando em nossas mentes, preenchendo nossa ânsia de comunicação, integração, realização autoral. Os presentes e ausentes se integravam em apenas uma conversa contínua.”

Dessas sessões duais resultaram diversos textos co-autorados, registrados num sistema de captação contínua, que dispensavam o comando “salvar”.

Todo este projeto pedagógico e editorial, representou uma busca por inovações nos processos de construção do conhecimento, uma busca direcionada à colaboração e à interautoria.

Alguns mediadores assumiram integralmente suas funções, colaborando ativamente na construção de conhecimentos, enquanto outros tiveram maior dificuldade no desempenho de seus papéis, talvez por estarem, naquele momento, conhecendo um processo inédito de criação textual. O envolvimento no processo e a produção resultante foram, ainda assim, produtivos.

O espaço limitado deste livro, no entanto, não permite que toda a produção escritural seja exibida. Os bate-papos especialmente não foram incluídos. Uma amostra desta proposta escritural pode ser vislumbrada na sessão final A-Intertextualidade, na qual quatro intertextos estão publicados.

Nos títulos da cada categoria, de cada capítulo, a primeira letra do alfabeto, o “a”, sugere simultaneamente dois significados: o prefixo a, que denota “negação” ou “ausência de” (como em amoralidade), e o do artigo definido “a” acrescido de um hífen, presentificando e denotando substantivos femininos. Esta ambigüidade que interrompe a leitura imediata e fluida de cada titulo dos temas apresentados, todos em “a-“, instaura uma indecibilidade, uma dicotomia não resolvida, um conceito em permanente discussão, indicando assim a complexidade das questões centrais selecionadas para um simpósio sobre “artemídia e cultura digital”.

“Artemídia”, forma aportuguesada do inglês “new media arts”, abrange as diferentes manifestações artísticas que se apropriam de recursos tecnológicos, a partir dos anos 50, desenvolvidos pelas indústrias da eletrônica e da informática e que disponibilizam interfaces áudio-tátil-moto-visuais propícias para a realização de projetos artísticos, seja nos campos das artes visuais e audiovisuais, literatura, poesia, música e artes performáticas, seja em campos como arte colaborativa baseada em redes, intervenções em ambientes físicos ou virtuais, aplicação de recursos de hardware e software para a geração de obras interativas, probabilísticas, potenciais, acessáveis remotamente (WIKIPEDIA, s.d.).

O termo “cultura digital” abrange a cultura da atualidade, que “está intimamente ligada à idéia de interatividade, de interconexão e de inter-relações entre homens, informações e imagens dos mais variados gêneros. Essa interconexão diversa e crescente é devida, sobretudo, à enorme expansão das tecnologias digitais na última década” (COSTA, 2003, p. 8): computadores com mouse, teclado e desktop; a interconexão entre os computadores, nas quais a Internet e a Web se espalham; os notebooks; os telefones celulares, os palmtops ou computadores de mão; a tevê digital interativa ou itevê; os brinquedos eletrônicos e os consoles de games.

Uma subdivisão temática buscou uma ampla visão da “artemídia e  cultura digital” especificados em cada um dos capitulos: os novos meios de comunicação, em a-medialidade; uma reflexão para a produção de conhecimento planejada e realizada nas instituições de ensino superior, em a-universidade; a produçao de poesia com o uso de recursos da tecnologia computacional, em a-poeticidade; os recursos textuais produzidos pelas novas tecnologias, em a-textualidade; as relações de personagem,  espaço, tempo e enredo na Era da Informática, em a-narratividade; as imagens recodificadas na comunicaçao digital, em a-visualidade; as reflexões sobre o surgimento do ciberespaço, em a-espacialidade; as relações entre o corpo físico e o corpo tecnológico, em a-corporalidade; a questão do tempo cronológico e do tempo no ciberespaço, em a-historicidade; a questão das tradiçoes e dos novos paradigmas científicos, em a-cientificidade; o desenvolvimento da linguagem com seus recursos especiais, em a-digitalidade; a influência das novas tecnologias em a-esteticidade; uma reflexão dos novos rumos da escrita computacional e da cultura científica em a-prospectiva da digitalidade; e um exercício criativo, metatextual e intertextual, em a-intertextualidade.

Sob o ponto de vista de a-midialidade, há uma reflexão sobre o cinema na rede e outra sobre a criação de personagens-vídeo.

Kiko Goifman, em “O cinema e a web – reflexões a partir do filme 33”, traz algumas considerações, com base em sua produção criativa, o filme “33”, a respeito do cinema antes e depois da web, ou seja, a “relação entre o cinema pensado para um espaço de projeção (sala de cinema) – usualmente ainda em 35 mm – e a experiência de rede”, estabelecendo alguns parâmetros: diário on line, montagem digital, música à distância, jogo com a mídia, o sítio e o totem, a distribuição e blogs.

Otávio Donasci, em “Videocriaturas: a face e a máscara eletrônica”, descreve a criação da videocriatura, um híbrido homem-vídeo, um ser da era eletrônica, cuja construção se fez por meio dos laboratórios do videoteatro e da elaboração de uma máscara “construída a partir de televisores preto e branco ortopedicamente fixados na cabeça, acompanhando o formato do rosto e ligados por cabos a um videocassete ou câmara low-tech, único equipamento acessível na década de 80 no Brasil”.

Sob o tema de a-universidade, incluem-se: a interculturalidade das mediações promovidas pelas redes digitais e a organização do conhecimento nas universidades a partir da cultura digital.

Hiliana Reis, em “Interculturalidade, mediações e redes digitais”, apresenta um estudo sobre o processo de globalização e o fluxo migratório de estudantes internacionais ao Brasil, a partir de uma pesquisa realizada junto a doze estudantes africanos e latino-americanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Nilson José Machado, em “A universidade e a organização do conhecimento: a rede, o tácito, a dádiva”, aborda as transformações do conhecimento como rede de significações na universidade contemporânea como cultura e conhecimento tácito e como conhecimento, dádiva e valor de laço, apresentando as contradições do discurso e da ação nos meios educacionais.

Em a-poeticidade, dois estudos mostram diferentes aspectos da poesia da cultura digital: um faz reflexões e exemplifica, enquanto que outra mostra uma perspectiva histórica do que vem sendo realizado desde o final dos anos 50.

Lucio Agra, em “A poesia (im)possível do século XXI”, aborda questões culturais, artísticas e poéticas da contemporaneidade para exemplificar com uma experimentação poética, um “sender” de August Highland (EUA), que pode nos fazer lembrar de poemas concretos, assunto que vem sendo estudado por muitos especialistas.

Jorge Luiz Antonio, em “Perspectiva histórica da poesia eletrônica”, apresenta uma linha cronológica das experimentações poéticas com os computadores, em vários países, de 1959 até os dias atuais, além de uma categorização desses tipos de poesias em consonância com a tecnologia computacional empregada.

A-textualidade apresenta dois enfoques sobre a textualidade digital e a questão da autoria e a vida contemporânea que permanece nos textos e resiste à morte.

Cícero Inácio da Silva, em “A autoria de nome próprio”, tece considerações a respeito de como “reconhecer o traço de um autor sem que ele ao menos compareça através de um registro qualquer: uma marca, um traço, um movimento corporal diante do texto, na sua leitura, na sua cadência própria, na sua inseparável condição de legibilidade e de escrituração”, com base na afirmação de que o “nome próprio vive em conflito consigo, diante de si.”

José Augusto Mourão, em “Semiótica e cibercultura: Metacarne, ou a vida depois da carne”, afirma que as “nossas vidas passam-se entre textos, em textos”, para estabelecer relações entre cibercultura, ciberliteratura e a obra Metacarne, uma narrativa digital do escritor português Manuel Pais.

Quanto à a-narratividade, dois enfoques abordam a narrativa no videogame e no roteiro e na narrativa em hipermídia.

Sergio Nesteriuk, em “Videogame: jogos, narrativa e interação no espaço virtual”, faz considerações sobre os três tipos de estudos (funcionalistas, técnico-tecnológicos e formalistas), apresentando uma história do videogame, que passa a existir a partir de 1951. Para o autor, videogame é “um tipo genérico de jogo que se processa e opera por meio de um computador, independentemente do lugar em que seja jogado, mas também como uma linguagem que, como tal, possui suas particularidades”.

Vicente Gosciola, em “Sonho quântico: um modelo de roteiro e narrativa em hipermídia”, estuda a hipermídia como uma linguagem própria que tem “competência para comunicar as vantagens sobre outros meios porque organiza conteúdos – especificamente em ambiente digital -, permite uma acessibilidade jamais conhecida antes do hipertexto”, a partir dos modelos da translação e repetição, da música, do teatro, do cinema, do jogo, do vídeo interativo e da física quântica.

Para a-visualidade, há dois estudos: um sobre a cor e o outro sobre a imagem nos meios digitais.

Mary Peirce, em “Capturando o efêmero: a cor como uma ponte entre Arte e Ciência no mundo digital”, procura discutir a visualidade na arte do passado e do presente, examinando os conceitos relacionados a um elemento abstrato particular, especialmente na pintura, que é a cor.

Suely Fragoso, em “Caleidoscopia midiática: da criação à ressignificação das imagens em perspectiva”, estuda a diferença entre o registro fotográfico analógico e sua contrapartida digital: que “permanece inalterado nas tecnologias digitais e analógicas de reprodução de imagens: ambas contam com um dispositivo óptico que estabelece um vínculo luminoso entre a superfície de registro e os elementos de uma cena qualquer, viabilizando o congelamento de um momento específico do mundo dito `real´ para sua posterior re-enunciação”.

A-espacialidade é estudada a partir de ambientes virtuais e da imagem digital.

Anja Pratschke, em “Estruturar o inestruturável: o uso da mnemotécnica na construção de ambientes virtuais”, apresenta relações entre o trabalho de arquitetura e a construção de ambientes virtuais, através de exemplos comentados, como é o caso de Trans-Port, do arquiteto holandês Kas Oosterhuis, dentre outros.

Miguel Said Vieira, em “Geometrização do mundo e imagem digital: a tecnologia como condicionante da arte contemporânea”, trata da transição do analógico ao digital, com base na imagem digital, procurando “identificar de que maneiras a imagem digital pode condicionar a arte que dela se serve”. Elabora ainda uma reflexão sobre “a técnica ligada a essa imagens, e relaciona-a ao conceito de espaço na filosofia moderna”.

A-corporalidade enfoca, no primeiro texto, as propostas colaborativas em instalações cíbridas e, no segundo, apresenta reflexões sobre as tecnologias de telepresença.

Lucia Leão, em “Alquimias da webmatilha: propostas colaborativas em instalações cíbridas”, apresenta conceitos e exemplos sobre a relação entre corpo e ciberespaço, ciberpercepção, e o surgimento de uma webmatilha, em que o particular e o coletivo, o individual e o grupal se juntam no ciberespaço: “A cada momento que nos vemos representados em duplos de ciberespaço, clones que nos retraduzem em lógicas organizacionais, percebemos a matilha que nos habita”.

Yara Guasque, em “Questionamentos quanto às tecnologias de telepresença”, apresenta os conceitos fundamentais de telepresença e estabelece relações sobre a telepresença com a vigia remota do globo, apresentando exemplos e comentando-os.

Em a-historicidade, há um enfoque nas relações em Estética e Cibercultura e outro a respeito da violência e da civilização contemporânea.

Eugenio Trivinho, em “Estética e Cibercultura: arte no contexto da segregação dromocrática avançada”, aborda a cibercultura e suas relações com a dromocracia, o terror e as novas formas de segregação social, e o vínculo da arte com esses aspectos. O termo “dromocracia” é um conceito que “abrange as profundas mudanças por que a vida humana tem passado nas últimas décadas, em função da aceleração tecnológica levada a cabo em todos os setores (esfera da produtividade, mercado de trabalho e de consumo, comunicação, urbanização, modelos e modismo, relacionamentos, etc.).

Eduardo Subirats, em “Violência e civilização”, traça considerações sobre a teoria da violência que caracteriza a sociedade industrial: teorias evolucionistas de George Sorel e Lênin, manifestos de vanguarda de Marinetti e Tristan Tzara, Antonin Artaud e Salvador Dalí, teorias da violência colonial e anticolonial de Che Guevara e Franz Fanon, dentre outras.

A-cientificidade traz considerações sobre os processos comunicativos entre corpos biológicos e tecnológicos e estabelece relações entre a antiga ciência dos números e a ciência moderna.

Rachel Zuanon, em “A emergência da consciência co-evolutiva nos processos de comunicação entre corpos biológicos e tecnológicos”, busca “entender a consciência não mais como uma função exclusiva de um corpo biológico, localizado em um cérebro, mas como uma função de um organismo orgânico ou sintético e que não mais é detectável como advinda de um órgão específico”.

Giliane M. J. Ingratta, em “A antiga ciência dos números – um contraponto à ciência moderna”, traz um panorama histórico da ciência dos números da Antigüidade aos dias atuais para chegar nos conceitos fundamentais da linguagem de computador.

A-digitalidade trata da cibermídia e da cinematografia digital.

Lucia Santaella, em “Os espaços líqüidos da cibermídia”, ao conceituar internet, ciberespaço, interfaces, imersão em espaços líquidos, estabelece a visão de um leitor imersivo, em contraposição ao leitor contemplativo e o leitor movente, que antecederam o primeiro, para designá-lo de “aquele que navega através de fluxos informacionais voláteis, líquidos e híbridos – sonoros, visuais e textuais – que são próprios da hipermídia”.

Carlos Ebert, em “Cinematografia: a transição do foto-químico para o eletrônico-digital”, faz uma reflexão sobre o novo paradigma tecnológico na cinematografia, que é o cinema digital, ou seja, “a masterização, envio e exibição de filmes em suporte digital, tenham sido ou não captados com câmeras digitais”,  e a cinematografia digital, que é “a captação, edição e finalização em suporte digital, podendo a exibição se dar em digital ou em película cinematográfica”.

Em a-esteticidade, temos um estudo da artemídia e outro sobre a cibersala de aula.

Priscila Arantes, em “Arte e mídia no Brasil: perspectivas da estética digital”, apresenta a trajetória da arte vinculada à mídia no Brasil, apresentando os pioneiros,  a arte e a comunicação nos anos 80 e as estratégias de atuação da artemídia na contemporaneidade.

Sérgio Basbaum, em “Na cibersala de aula sem paredes da aldeia (arte, utopia, cultura digital)”, apresenta, no estilo mcluhaniano de uma escrita em “mosaico”, um conjunto de idéias que põem em questão as transformações da experiência contemporânea pela intervenção pervasiva das redes tecnológicas, e o lugar, o papel da arte em tal contexto. O texto, escrito em forma livre e repleto de citações busca refletir sobre clichês como “arte e tecnologia”, “pós-humano” e “pós-moderno” a partir da perplexidade com que o tecnológico hoje opera o cotidiano.

uma série de textos que, mesmo no meio impresso, propõe um novo tipo de ensino de arte, num diálogo com o ciberespaço, representado pela ciberssala de aula, uma janela para o mundo.

a-prospectiva da digitalidade, Artur Matuck, em seu texto “Tecnologias digitais e o futuro da escrita: uma prospectiva para a informação científica”, propõe um exame pontual das questões relativas à digitalização do conhecimento e busca estabelecer uma compreensão desse fenômeno em dois níveis inter-relacionados – na dimensão tecnológica e na dimensão política – com o propósito de fornecer subsídios para reinvidicações sociopolíticas.

Sob a rubrica de a-intertextualidade, alunos do curso de Arte Telemática estabeleceram releituras de temas apresentados durante o Acta Media.

Abordando a-textualidade, Roberto Keppler, em “A gramatura do tempo”, faz reflexões a partir de textos desta antologia e aponta uma tessitura que trata do tempo como construção artística e textual.

A respeito da a-corporalidade, Wilton Lyra, em “A-Corporalidade – Intertexto de Wilton”, apresenta, por meio de uma formatação especial, uma incorporação, diálogo e intertextualidade com alguns dos autores presentes nesta coletânea.

Sob o tema d´a-historicidade, Carolina Amaral de Aguiar, em “A-historicidade: a História e a busca por novos caminhos”, parte do I Ching e da numeração binária de Leibniz, para tratar sucintamente da história do computador e do pensamento científico contemporâneo.

Abordando a-espacialidade, Cláudia Martin Nascimento, em “Espacialidade del Cyberspace (um meta-texto híbrido transcultural), produz um texto cujas fontes são outros textos coletados na internet, elaborando assim uma reflexao sobre a linguagem, a Internet e a globalizaçao.

Artemídia e Cultura Digital é o resultado desse trabalho colaborativo e interativo de muitas pessoas e reúne ensino e pesquisa em suas formas teóricas e práticas, realizadas em atividades presenciais e virtuais. É um diálogo entre professores, pesquisadores, alunos e interessados no estudo da Artemídia e da Cultura Digital.

Artur Matuck

Jorge Luiz Antonio


[1] Termo proposto, na década de 1980, por Roy Ascott para as pesquisas artísticas que envolviam arte, telecomunicações e informática. Passou a designar experimentações artísticas a partir de técnicas e serviços em que se associam meios de informática e de telecomunicação, como transmissão eletrônica de informações através de rede de computadores, slow scan VT (televisão de varredura lenta), telefones, satélites ou televisão.

[2] Artur Matuck inspirou-se na revista Acta Medica, que via no consultório de seu pai, que foi médico.

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